terça-feira, 13 de maio de 2008

A greve, o grito e minhas leituras!

Em dias de greve de rodoviários, quebra-se a rotina. Por força da paralisação, quem depende de ônibus dá asas à imaginação, enquanto torce por um (previsível) desenlace entre os patrões e os empregados.

Mas será que a greve só traz problemas? Este escrevinhador acha que não. Há aspectos positivos na greve. Não me refiro aqui apenas à possibilidade de os rodoviários terem alguma melhoria nas suas condições de trabalho e salário. Não.

A greve nos obriga a ficar em casa e, de alguma forma, a “aproveitar o tempo”. Esses dois dias me obrigaram a concluir a leitura de mais um bom livro. Aliás, esses dois dias me fizeram melhorar minha média de leitura em relação a igual período do ano passado. Esses dois dias, sim, me obrigaram a pensar mais.

Concluo, também com atraso, a leitura de A MOSCA AZUL, REFLEXÃO SOBRE O PODER, DE FREI BETTO. Trata-se de uma aula de uma pessoa comprovadamente desapegada das possibilidades do poder. Com uma prosa quase lírica, Frei Betto discorre sobre a experiência de quem, no governo Lula, ocupou o cargo de assessor especial da Presidência da República. Ele era responsável pela mobilização social de um projeto do governo. Critica o Governo Lula e o PT, mas critica, sobretudo, a ausência, em tempos atuais, de um exercício tão necessário a um projeto de nação: o pensar! Ou seja, Frei Betto grita com a sutileza das palavras, que, aliás, usa muito bem. Grita com a habilidade de um faminto, mas faminto por civilização. Por isso, Fala, em certa parte do livro:

“Pensar dói. É tão mais confortável tudo estar previsto. Então, a verdade nos é servida à boca como sopa quente em noite de inverno. Basta ter fé, confiar. E se não alcançamos os fundamentos teóricos da verdade, há a hermenêutica da autoridade a socorrer a nossa ignorância. Sofrido é encontrar-se numa encruzilhada após ter perdido o mapa da viagem. Ver-se obrigado a escolher um caminho, uma via, um rumo. Optar. Renunciar a tantas possibilidades. E ousar abrir o caminho com o próprio caminhar (...)”.

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