domingo, 11 de maio de 2008

Profilaxias lingüísticas!

Com atraso, li a entrvista de Marcos Bagno à revista Caros Amigos do último mês de março. É impossível não comentar. A entrevista é, digamos, profilática. Ele nos vacina contra as doenças que infestam o mundo da linguagem, lastima o surgimento dessa a chaga social chamada Pasqualismo e, de quebra, sugere que a tal Dad Squarisi se sente no trono da burrice, que, aliás, lhe cai muitíssimo bem - já suportei o dissabor de ler dois livros dessa cidadã. Isso me dá autoridade para concordar com Bagno!

Mas minha libertação começou quando li preconceito lingüístico, o que é, como se faz. de Bagno, claro. Nele há uma verdadeira aula, inclusive, sobre a dimensão ética, na qual se deve situar a linguagem com toda a sua riqueza de possibilidades. Também comprei, recentemente, do mesmo mestre, Dramática da língua portuguesa, que vou ler em breve.

No fundo, os adeptos da gramatiquice prestam uma grande contribuição à perpetuação dos preconceitos. E como diz José Arbex júnior (este, sim, inteligente!), “(...) até psicologicamente é muito mais fácil perpetuar um preconceito que desconstruí-lo”.

Qualquer pessoa com o mínimo de curiosidade sobre os diferentes “falares” brasileiros sabe que esses mestres do decoreba, em sua maioria, enriquecem-se à custa da ignorância de quem não conhece o patrimônio cultural que as variações do português brasileiro constituem. Nunca leram um poema de João Cabral de Melo Neto (e se leram não entenderam) chamado de o sertanejo falando:

“(...) Daí porque ele (o sertanejo) fala devagar
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-las na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho”.


Na verdade, ignoram as dimensões continentais do Brasil, querendo impor ao conjunto da nação regras pré-cambrianas de uma língua que Guimarães Rosa nunca aceitou como camisa-de-força.Aliás, enquanto Guimarães Rosa promove a linguagem do sertão, revelando o falar sertanejo como um resíduo de erudição, o Pasqualismo e o Squarisismo tentam estigmatizar. É o fim. Eu diria, se não fosse o vanguardismo de mestre como Marcos Bagno. Agora, com todo mérito, ele também é um "caro amigo".

http://www.marcosbagno.com.br/


Maurício Batalha

2 comentários:

M.A disse...

Aos "gramatiquistas" que tal um pouco de Veríssimo? Não o Érico, o Luis:

" Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.

— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho."

Boa relexão, gritadores.

M.A disse...
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